Artigo Traduzido: O Principal Motivo do Fracasso das Startups, por Paul Graham

Paul Graham é um cientista da computação nascido na Inglaterra e radicado nos EUA, que ficou mundialmente conhecido por criar a aceleradora de startups YCombinator na Califórnia, responsável por investimentos em muitas das maiores empresas de tecnologia do mercado, como Airbnb, Dropbox, Reddit, Twitch e Rappi.

Em 2002 ele escreveu um artigo entitulado “Como ter ideias para startups“, que teve profundo impacto e influenciou muitos empreendedores da nova geração no Vale do Silício. Se você pensa em criar uma startup, recomendados a leitura do artigo original completo, que está em inglês.

Em nossa opinião, o ponto alto do texto é quando ele fala sobre problemas, ou seja, como é importante você conhecer bem um problema (e ser uma das pessoas que sofrem ou passam por este problema) antes de iniciar uma startup para resolvê-lo.

Segue uma rápida tradução livre dessa seção do artigo:

Problemas

Por que é tão importante trabalhar em um problema que você tem ou enfrenta? Entre outras coisas, isso garante que o problema realmente existe. Pode parecer óbvio dizer que você só deve trabalhar em problemas que existem. Apesar disso, o erro mais comum cometido pelas startups é justamente resolver problemas que ninguém tem.

Eu mesmo cometi esse erro. Em 1995 eu criei uma empresa para colocar galerias de arte no ambiente online. Mas as galerias não queriam estar online. Não é a forma que o mercado e negócio de arte funciona. Então por quê eu passei 6 meses trabalhando nessa ideia de startup? Porque eu não prestei atenção aos usuários. Eu criei um modelo de mundo que não correspondia à realidade, e trabalhei à partir disso. Eu não percebi que o meu modelo estava errado até eu tentar convencer usuários a pagar pelo que nós construímos. Mesmo após isso eu ainda demorei bastante para entender. Eu estava apegado ao modelo de mundo que havia idealizado, e eu havia gasto muito tempo no software. Eles “tinham” que querer usar!

Por que tantos fundadores de startups criam coisas que ninguém quer? Porque eles começam tentando pensar em ideias para startups. Esse modus operandi é duplamente perigoso: ele não apenas produz poucas boas ideias, mas também produz ideias essencialmente ruins mas que parecem “boas” para serem trabalhadas.

Na YCombinator, nós chamamos isso de ideias de startups “inventadas” ou “sitcoms” (em referência ao termo em inglês que define os seriados de TV e que não possuem relação direta com a realidade). Imagine que um dos personagens de uma série de TV estivesse começando uma startup. Os redatores ou escritores da série teriam que inventar algo para essa empresa fazer. Mas ter boas ideias de startups é muito difícil. Não é algo que você possa fazer simplesmente porque decidiu fazer. Então (a menos que os redatores tenham tido muita sorte) eles terão uma ideia que parece plausível, mas que na verdade é ruim.

Por exemplo, uma rede social para donos e donas de animais de estimação. Essa ideia não parece ser ruim. Milhões de pessoas tem pets. Elas geralmente cuidam muito bem dos seus animais e gastam muito dinheiro com eles. Certamente muitas pessoas gostariam de ter um site onde eles pudessem falar com outros donos de animais de estimação. Talvez nem toda as pessoas quisessem fazer isso, mas mesmo que apenas 2 a 3% fossem visitantes frequentes, você poderia ter milhões de usuários. Você poderia disponibilizar ofertas direcionadas, e talvez cobrar por funções premium.

O perigo de uma ideia como essa é que quando você testa ela com os seus amigos que tem pets, eles não dizem “Eu nunca usaria isso”. Eles dizem “Sim, talvez eu pudesse usar algo como isso”. Mesmo depois que a startup é lançada no mercado, a ideia continuará parecendo plausível para muita gente. Eles não querem utilizar eles mesmos, pelo menos agora não, mas podem imaginar outras pessoas utilizando. Aplique esse mesmo tipo de reação e pensamento a toda a população, e você terá zero usuários.